sábado, 30 de abril de 2022

Da *casa colorida* ao *apê rosado* Ou Caminhando por um quintal encantado



Quando uma flecha certeira é lançada, as forças do universo estão empenhadas em fazer com que o alvo seja atingido. Aprendi nos sonhos.  

O que guia a mudança da *casa colorida* ao *apê rosado*? Fiquei aqui pensando com minha corpa inteira...

Só tem de ser o amor-amar! 

Aquele, tecido nas fogueiras de todos os dias, temperado com a ternura do céu rosa do alvorecer, do azul brilhante do meio dia e do breu misterioso que acolhe as estrelas e todas as luas...

Ouvindo as ondas do mar, o amor-amar, é furta-cor tal qual a orquídea que floresceu na mangueira pra celebrar o novo ciclo, junto com as Orquídeas-da-Guia.

Tem sabor de manga- espada, que dá do lado do cajueiro-que-dá-de-tudo.

Sob proteções majestosas da Babosa Rainha, o amor-amar reina ao lado do boldo, da flor de folhas rosas e felpudas, do bambu musical, da amoreira bebê; Babosa reina por todos os lados sob as aroeiras perfumadas que limpam densidades invisíveis; estas  e compartilham sua morada com acerola, graviola, limão e a grande amiga erva cidreira: todas de pé misturando-se com as preciosas rasteirinhas ... 

Ah... o amor-amar tem espinhos como o cacto que de dentro de um vaso ergueu seus membros para o céu e para dentro do que sobrou da raiz do coqueiro no meio do terreiro. Simplesmente por que sim.

É imponente o amor-amar, como o cajueiro onde subimos, brincamos, fizemos cachoeira de mangueira, vimos o mar, chegamos mais pertinho dos céus e penduramos nossa rede. Corujas, bem-te-vis, miquinhos, beija-flores e pássaros que voam por aqui amamos você. Nos deitamos em você pra sentir o ventinho das noites estreladas, pra ver manjericão florescer, enredado com mastruz, arruda avisar dos humores que passaram, orapronobis desabrochar pequenina e o maracujá trazer calmaria na perfeição de suas flores...cajueiro, meu amor, sei que sente saudades da graviola e do nosso coqueiro lá no alto, com seu de côco amarelo e água salobra... será que foi por isso que aos seus pés nasceu uma floresta? Samambaia te ama, você sabe.

Sei, por que sinto, que debaixo de sua sombra nos sentimos em casa. Ou melhor: você é uma casa com uma palmeirinha da Guia na entrada do terreiro.

Sabe, o amor-amar vem como banho de chuveirão, vendo a vida crescer por onde escorre água e cachos de bananeira florescem alaranjados...

Amor-amar se faz com movimento e resiliência - assim, como os buquês de noiva itinerantes, cada qual com sua crianças guardiã; antes ou depois da casa colorida e com bambu. 

Entre o antes e o depois, amor-amar é caminhar pelo corredor cheiroso de jasminzinho e encontrar o chão forrado de flor ou de espinho de jambo, sob a proteção de felicidades e de espadas. 

Ah, como é bom sentir o cheirinho do jasmim rosa e branco que se abraça com a florzinha amarela e se deita sobre sua cama de bambu...elas se amam, eu sinto e me alegro tanto de ve-las assim...me inspiro em vocês, meus amores! 

Ter vocês na chegada e na partida é muito especial. 

Assim como ter a grande palmeira plantada por mãos irmãs, a elegante flor do deserto e nossa ma-ra-vi-lho-sa aceroleira que dá fruto o ano todo. 

Que bom que foi termos acreditado em em você, cerola! 

Como amo suas florezinhas e o vermelhinho quase doce do seu fruto, enquanto seus galhos sustentam delicadas orquídeas...você viu passarem por aqui girassois, hortinha de aniversário, nossa saudosa goiabeira e viu a rasteira que trouxe de viagem subir pelas paredes a verdejar nossas refeições. Ah, você, aceroleira...bordando, dando sabor e trazendo saúde à nossa passagem...minha irmã amada...

É rosa, o amor-amar!

É como uma rosa e seus espinhos, o amor-amar que bordo com meus filhos, Luiz e Vitor!

Às vezes atrapalhadamente, como um bebê aprendendo a mamar, as vezes abrindo as carnes, como o rebento que chega para o lado de fora de nossas úteras e sempre, sempre inteira como a intensidade do agora.

O agora que já foi e o agora que virá. 

Salve, salve, novo ciclo!

Que seja colorido como rosas!